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Foto do escritorDavid Costa

Exercício Físico Pós Pandemia – Desejo vs Realidade

Numa altura em que entramos numa nova fase da nossa vida social/profissional, emerge uma questão: como fazer deste retorno ao ginásio uma situação favorável e não inóspita.

A realidade é que a vontade de regressar aos treinos presenciais é enorme por parte dos profissionais do Exercício Físico (EF), a qual encontra um espelho no desejo de retorno aos locais de prática por parte dos alunos. Mas, será que este “voltar à carga” deverá ser feito de uma forma baseada apenas nesses desejos? Ao sê-lo, não estaremos a ignorar certos princípios do treino? O aluno deverá voltar ao mesmo treino que estava a realizar, bastando alterar cargas, séries, repetições ou descanso? Ou deveremos repensar todo o treino e preparar pedagogicamente quem em nós confia o seu corpo para a realidade do que será este retorno, por forma a que este seja o mais ameno e salutar possível?

Antes de mais, devemos ter em conta a linha cronológica que nos trouxe até este ponto.

Tal como a grande maioria dos setores nacionais, o fitness estava em clara expansão, com as grandes cadeias a abrir novos polos, marcas unipessoais a abrir/aumentar os seus espaços e ainda um aumento do número de estúdios de treino personalizado. O Personal Training vinha aumentando o seu impacto nas receitas dos diferentes espaços, já que quer o aumento de salários, quer a própria lei da concorrência, fizeram com que o serviço deixasse de estar ao alcance apenas da elite da sociedade. Cada vez mais a profissão começava a ser percecionada pelos portugueses como fundamental para a sua vida, para o seu bem-estar físico, psíquico e emocional. De igual modo, a evolução, formação e conhecimento dos verdadeiros profissionais de Exercício Físico vinham também a alterar de forma positiva como eram vistos por todo o setor da saúde, começando a haver cada vez mais ligações, cooperações e trocas de informação de parte a parte (perpetuando o cliché “juntos somos mais fortes”).

Em pleno pico de evolução e transformação de toda uma indústria, heis que a 16 de março de 2020 surge o que nunca alguém poderia prever: os ginásios fecham as portas devido à propagação de um inimigo invisível ao olho humano, um novo estipe de Coronavírus: SARS-CoV-2.

Depressa as várias marcas e profissionais se desdobram em aulas online, streams, lives, vídeos, treinos personalizados em plataformas online (mais tarde, treinos personalizados no exterior), etc. Cada um fez o que pôde, fosse para manter honorários, procurar novas oportunidades de obter vencimentos, para se manterem ativos ou simplesmente para ajudar os outros. Cada um trabalhou como coração que tinha e o que a carteira exigia.

SIM, alcançamos muitas pessoas. SIM, colocamos a mexer muitos que nem estavam inscritos em qualquer espaço desportivo. SIM, fomos um ponto de apoio importante para muitos portugueses. SIM, fizemos o nosso melhor, MAS devemos ter em conta que tal NÃO significa que tenha feito bem a todos. NÃO, não temos dados para medir se a prática de EF por todos os que agora regressam foi ou não mantida ao longo da quarentena. Não sabemos se foi adequada. Não sabemos a condição real do seu estado atual. Não sabemos muita coisa.

Em finais de abril, veio o fim do estado de emergência e o respetivo desconfinamento. Mas os ginásios ficaram de fora, apenas reabrindo a 1 de junho.

Ora bem, somando tudo temos 2 meses e meio de ginásios fechados e de ausência (para muitos) de atividade física regular. Foram tempos árduos, onde cada profissional fez o que achou que deveria ter feito (uns investiram esse tempo em formação e conhecimentos, outros em descanso, lazer e outras coisas mais).

Agora, após a reabertura, o que constatamos? Afinal as pessoas não estavam tão desejosas para voltar imediatamente aos treinos; estão sim a aparecer gradualmente, procurando primeiramente segurança no seu espaço de eleição de prática de EF. Podemos aqui ter 2 tipos de atitudes:

1. Derrotista: onde pensamos “Assim vai ser difícil, assim fechamos portas, desisto”; ou

2. Resistente: onde resistimos à ideia anterior e vemos o copo meio cheio. Temos tempo agora para educar os nossos alunos, mesmo os que não são nossos PT’s, acerca do que o exercício deverá ser nesta altura.

E então como que deverá ser este regresso?

Peço desde já desculpas a quem leu até aqui. De facto, não existe aqui nenhuma fórmula mágica (quem percebe realmente de exercício, sabe que não poderia ser de outra forma).


Será preferível pensar “podia ter dado mais um pouco”, do que “foi demais”.


Contudo, existe aqui algo a ressalvar: esqueçam um pouco a parte muscular “pura e dura”. O músculo, ao ser amplamente vascularizado e enervado, voltará aos seus níveis pré pandemia de uma forma relativamente rápida, logo, isso não será um grande problema. Deveremos antes priorizar as restantes estruturas peri-articulares (menos vascularizadas e enervadas do que o tecido músculo-esquelético, logo, com um tempo superior de recuperação para os níveis prévios/habituais). Assim, na minha opinião (que vale o que vale), aconselho a começarmos por trabalhar o controlo motor, a preparar o corpo para o que “era dantes”, com sensatez, precaução e progredindo calmamente. Será preferível o aluno no dia seguinte ao treino pensar “podia ter dado mais um pouco”, do que “foi demais”. Se há 2 meses pregávamos aos 7 ventos o slogan “mexa-se pela sua saúde”, agora não poderemos cair no “no pain, no gain”! Seria, no mínimo, uma idiotice e, a longo prazo, um retrocesso de décadas face aos que os restantes profissionais de saúde pensam do nosso trabalho.

Devemos considerar as consequências a longo prazo.


As consequências do que fizermos neste início de regresso aos treinos não irão ter, provavelmente, grandes repercussões a curto prazo. Mas, e no futuro? Com estruturas peri-articulares enfraquecidas por tempos de ociosidade, stress, ansiedade, alimentação e sono desregulados (no mínimo), o que acham que lhes irá acontecer?

Em breve irei colocar um outro texto, sob o tema de osteoartrose e exercício físico.

Nesse artigo de opinião (baseado em evidência científica), irão poder ter uma ideia mais concreta no que poderão resultar futuramente todas as decisões tomadas no presente.

Até lá, sensatez deverá ser a palavra de ordem e:

. Começar com pouco e simples.

. Progredir o que cada corpo singular deixar.

- Lembrar que, antes de tentar “fazer bem”, devemos procurar “não fazer mal”.

. Aproveitar esta fase para construir novamente uma boa base de sustentação de todo o organismo face ao processo de treino.

Tudo o resto poderá vir depois.

Bons treinos!

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