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Foto do escritorDavid Costa

Uma segunda oportunidade - conhecendo o cliente

Atualizado: 21 de mar. de 2021

Estando nós perto da reabertura dos nossos locais de trabalho, heis que nos vemos perante um caminho tortuoso, mas que poderá vir a tornar-se virtuoso, caso façamos por isso.

De facto, vivemos tempos difíceis, até mesmo penosos em alguns casos (infelizmente) e, neste momento, aguardamos ansiosamente para voltar ao ativo e ao trabalho presencial. As dúvidas são imensas e as respostas escassas, baseadas essencialmente em opiniões pessoais e pouco mais. Os chamados "experts" não serão neste momento mais do que adivinhos; indivíduos que procuram persuadir os seus ouvintes ou leitores com as suas palavras, baseadas numa mão cheia de nada, pois se nunca vivemos semelhante situação, como poderão ser especialistas de algo inédito?!

Não pretendo que este texto seja um consolo, uma leitura motivacional ou que se afigure como uma qualquer canalização energética positivista, até porque não o sou...de todo!

Contudo, pretendo apenas e só partilhar o meu ponto de vista face ao que poderá ser uma lufada de ar fresco para um setor profissional que se encontra preso à imagem imutável que a sociedade criou dele: monitores de ginásio (ou, como ainda há uns dias referiram num noticiário: professores de ginástica) que procuram desenvolver a estética dos seus clientes. Se procuramos clarificar durante todo um ano de pandemia que somos parte integrante e fundamental do que à saúde diz respeito, a sociedade não nos ouviu. Poderíamos apontar dedos para todo o lado, mas sejamos sinceros, um setor que passou décadas com cartazes, posts, vídeos, imagens ou quaisquer outras manobras de marketing e publicidade, onde o que era evidenciado eram os corpos atléticos (que a maioria dos seus clientes não possuía, nem iria alguma vez alcançar), não poderíamos pensar que, de repente, olhassem para nós e vissem doutores a zelar pela sua saúde. Continuamos a ser vistos como os esculpidores dos corpos bonitos, dos corpos de verão, dos corpos atléticos capazes de feitos fantásticos. Mas, infelizmente, não somos considerados saúde, não estamos ao nível dos médicos, osteopatas ou fisioterapeutas. Nem na lei, nem na mente de quem nos vê.

Ora, talvez este possa ser o momento ideal para a alteração deste paradigma, onde poderemos utilizar este caminho tortuoso que nos trouxe até aqui e transformá-lo num processo de mudança, dando vida ao provérbio "depois da tempestade vem a bonança".

E qual a maior ferramenta que teremos ao nosso alcance para que tal aconteça? CONHECIMENTO!



Aqui, teremos de "começar pelo início".

Quando voltarmos a receber os nossos clientes, seja em contexto de Personal Trainer ou não, teremos a hipótese de melhorar as experiências passadas. Uma forma de alcançar esse objetivo, será através da realização de uma melhor avaliação. Não no sentido de voltar aos questionários e/ou testes físicos que pouco ou nenhum transfere têm para o treino. Mas antes uma avaliação realmente individualizada de quem é a pessoa que temos à nossa frente. No fundo, tratar-se-á de procurar descobrir como se encontra naquele momento aquele sistema neuromusculoarticular, de forma a poder construir um verdadeiro plano de treino. Lembremo-nos que a palavra "plano" significa (entre múltiplos significados que poderá apresentar dependendo do contexto em que se insere) intuito ou desígnio, ou seja, deverá ser construído tendo por base um objetivo e, como nos referimos a pessoas, esse objetivo deverá ter em conta a individualidade da pessoa. Além disso, também deverá estar de acordo com as suas necessidades, para que a sua execução resulte em benefícios para com o seu interveniente.

E como iremos nós conseguir executar essa tarefa hercúlea? Quais as ferramentas necessárias? Apenas UMA! Ainda por cima, uma ferramenta que não ocupa espaço no saco do ginásio ou sequer no bolso das calças: o nosso cérebro! Mas atenção, cérebro todos temos. A informação e o uso que lhe damos é que nos difere.

Então, usemos esse órgão cujo estado de desenvoltura nos distingue de qualquer espécie que habita neste planeta e procuremos utilizá-lo de uma melhor forma, para que os nossos clientes olhem para nós e percebam o quão importantes somos para a manutenção e/ou melhoria da sua qualidade de vida. Não somos (só) promotores de corpos bonitos e atléticos (até porque gostos não se discutem e procurar esse objetivo não tem mal nenhum), mas, acima de tudo, somos PROFISSIONAIS DE EXERCÍCIO FÍSICO. Somos realmente a única profissão habilitada a atuar neste contexto. Como tal, devemos procurar fazer jus a essa designação, passar menos tempo (ou melhor, deixar de perder tempo) em guerras de trincheiras mesquinhas acerca de quais os melhores exercícios para o glúteo ou métodos para o six-pack.

Procuremos antes adquirir conhecimento para melhor conseguir avaliar os nossos clientes. Agora, surge a questão: "o que resultará desse upgrade, desse aumento de conhecimento?"

Vejamos: quando lemos um artigo que trate os resultados de forma estatística, vemos médias e desvios-padrão a serem estabelecidos na sua análise. Ora, esses gráficos são expressos sempre sob a forma de uma curva sinusoidal, ou seja, em forma de sino, onde a maior ocorrência prevista de acontecimentos estará ao centro, sendo essa ocorrência prevista menor nos extremos. Obviamente que poderá o leitor dizer: "David, as médias têm sempre algum erro associado, valem o que valem". E estarão corretos. Se nós os dois formos almoçar juntos, eu pedir 2 frangos e o leitor não comer nenhum, a média dirá que ambos comemos 1 frango, o que não corresponde à verdade. Sim, a média tem margem de erro e por isso é que utilizei a expressão "maior ocorrência prevista", o que significa que, como qualquer previsão, possui sempre uma determinada margem de erro. Contudo, quanto maior for o número de dados com essa tendência, maior será a minha certeza, embora nunca absoluta.

E tudo isto para dizer o quê?

Simplesmente que apenas com conhecimento é que conseguiremos analisar o que a ciência nos dá através dos seus experimentos e adaptá-los aos nossos clientes, à sua individualidade, às suas limitações e potencialidades e, dessa forma, conseguirmos construir uma norma para esse organismo único, porém, extremamente mutável ao longo do tempo.

O organismo humano é extremamente complexo. Disso não há dúvidas.

A ciência é uma área jovem. Disso não há dúvidas.

A ciência que estuda a nossa área é ainda mais jovem. Disso não há dúvidas.

Então, com tanta ausência de dúvidas, como podemos nós ter a certeza do que quer que seja? Como poderemos nós, só de olhar para a pessoa, dizer: "Leg Press, 3 séries de 10 reps, com 2' de intervalo e vai conseguir atingir os seus objetivos"?

No mínimo, é uma incoerência...mas sejamos sinceros, essa forma de estar na profissão roça a arrogância e a charlatanice. Pior ainda, faz-nos fazer figura de bobos da corte, "professores de ginástica", que não se distinguem de um troglodita facebokiano.


Portanto, e para finalizar, que o texto vai mais longo do que pretendia (mas o assunto também assim o merece): vejamos o copo meio cheio, procuremos fazer deste regresso aos treinos uma alavanca para que a sociedade nos encare com um novo olhar e perceba, de uma vez por todas, que somos importantes para a sua saúde e, como tal, para uma melhor e maior qualidade de vida.


Bons estudos (pois só assim poderemos construir bons treinos)

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