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Foto do escritorDavid Costa

O papel do Personal Trainer na Obesidade: especialista de quê?

Apesar de há já muito tempo não escrever para este espaço, heis que estou de volta com um novo texto, no seguimento do meu último post: “A utopia da perda de gordura localizada”. Nesse texto, procurei dar ao leitor uma ideia do quão inexequível é essa busca da perda de gordura localizada, acerca da qual, infelizmente, muitos procuram desinformar e vender tal sonho. Espero ter contribuído para evitar que alunos continuem a ser iludidos por parte de ditos profissionais de fitness, nos quais se deveria confiar, por serem (supostamente) os especialistas da área.

Este novo texto surge a partir desta última denominação: especialista. Durante estas últimas semanas surgiu-me este tema, quer enquanto viajava nas redes socias, quer privando com colegas de trabalho: o personal trainer (PT) como sendo um profissional “especialista” em emagrecimento. Apesar de verificar que muitos se denominam dessa forma (enaltecendo essa componente nas suas páginas profissionais ou mesmo através de vídeos com treinos específicos para um maior fat burn), é da minha convicção que não nos deveríamos considerar peritos em questões de obesidade. Ora, o leitor deveria já interromper-me (se de uma conversa presencial se tratasse) e afirmar: “David, atenção que emagrecimento e obesidade são conceitos distintos”. E, claro está, eu diria: “Tem toda a razão”!


Então, em que ficamos?


"é da minha convicção que não nos deveríamos considerar peritos em questões de obesidade"

O maior problema surge no contexto em que esses textos facebookianos e instagramianos são partilhados: através de partilhas de notícias com títulos bombásticos de “Ano de Pandemia e o aumento do sedentarismo”; “Covid-19 e o aumento da obesidade”; “OMS alerta para níveis de obesidade sem precedentes”; entre outros (nota: os títulos acima são meras descrições e, portanto, não serão transcrições dos mesmos, mas deverão ser tidos como exemplos para o intuito do presente artigo). De facto, torna-se importantíssimo alertar para esta situação, já que as consequências nefastas deste descontrolo serão imensas caso nada se faça para parar este flagelo. Contudo, daí até cair na loucura de se afirmar como perito neste tipo de abordagem, aí já estamos a falar de um salto quântico ao mais alto nível, bem ao estilo do exagero promocional que o fitness já nos habituou.

Antes de mais, importa perceber o que é, de facto, obesidade. E, aqui, nem vou estar com grandes explicações científicas, até porque nem irei precisar delas. Vamos antes recorrer ao simples e velho SENSO COMUM e a um pouco do velho sabichão: o “sr. Google”. Obesidade é classificada pela OMS como sendo uma doença crónica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que está associada a problemas cardiovasculares, hipertensão, diabetes, entre outras patologias, podendo ter várias causas (ambientais, comportamentais, genéticas, etc.). Repare o leitor nas duas expressões assinaladas acima e pense, ou melhor, questione-se: algo que é crónico e multifatorial conseguirá ser alterado pela ação de um único profissional? Não me parece! Contudo, até vamos dar o benefício da dúvida e explorar esta possibilidade.


"algo que é crónico e multifatorial conseguirá ser alterado pela ação de um único profissional?"

Primeiramente, se obesidade é considerada como sendo uma doença, então o técnico de exercício físico (TEF) não poderá atuar sozinho, uma vez que o seu estatuto legal não lhe permite qualquer abordagem ao nível do tratamento de uma doença. Mas permita-me o leitor continuar, antes de pensar que estou a dizer que o PT não pode atuar de todo nestes casos, até porque não foi isso que eu disse. O que eu afirmei é que não poderá estar sozinho neste processo. Terá de haver, pelo menos, quem tenha autoridade legal para o fazer, ou seja, um profissional da área médica.

Este ponto encaixa na segunda questão da minha refutação face à comunicação habitual dos TEF: sendo uma doença multifatorial, como conseguirá um só profissional dominar várias áreas para responder às necessidades do seu paciente? Simples: não consegue, pois não deverá ser apenas um, mas antes VÁRIOS profissionais, de VÁRIAS ÁREAS de especialidade. Ou seja, o discurso habitualmente individualista haveria de ser antes um discurso abrangente e inclusivo, do tipo: “Sou um PT que pertenço a uma equipa multidisciplinar especializada em obesidade”. Poderá o leitor pensar que se trata de um pormenor insignificante, mas, de facto, não o é! E porquê? Porque quem diz que consegue ser o único interveniente num processo de tal complexidade está a vender apenas e só uma coisa: UMA MENTIRA!


"quem diz que consegue ser o único interveniente num processo de tal complexidade está a vender apenas e só uma coisa: UMA MENTIRA!"

Repare nos fatores que podem desencadear a obesidade. Alguém pode ser obeso devido a questões hormonais (p.e. hipotiroidismo), como o pode ser por questões sociais (que poderão ir desde fatores negativos como o bullying, à hegemonia social, como no caso de um lutador de sumo); temos ainda fatores ambientais, familiares, genéticos, entre outros. Serão necessários vários profissionais para conseguir dar resposta a todas estas condicionantes, onde haverão de figurar, pelo menos:

· Endocrinologista;

· Psicólogo;

· Nutricionista;

· Técnico de Exercício Físico;

Ou seja, dificilmente um destes profissionais haverá de ter sucesso com o seu paciente/aluno, caso considere que consegue atuar SOZINHO. E, mesmo que alcance algo de positivo, imagine o leitor o quão aquém poderá ter ficado do “sucesso a 100%” caso pertencesse a uma equipa multidisciplinar.

Desta forma, o meu conselho é muito simples: fuja de quem lhe disser que é especialista (a solo) em emagrecimento, pois o mais certo é estar a contratar os serviços de um mau profissional: aquele que não admite que não possui faculdades para atuar sozinho, de forma a bem tratar quem é mais importante em todo este processo: o cliente!

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